Sunday, May 25, 2008

O final

Nos últimos tempos tive muito pouco tempo para parar e escrever. Agora, que estou a poucos minutos do aeroporto acho que tenho que pôr um ponto final em Timor.

Entreguei as pautas e os relatórios, troquei a bicicleta por tais, festejei com os alunos na praia da areia branca, fiz as maletas e as despedidas.

Acabou rápido. Acho que a maior falha foi não ter ido ao Ramelau, antigo ponto mais alto do império português. De resto, sinto a missão cumprida. Embora demasiado a correr. Era preciso algum tempo mais para compreender bem este povo. Como seria de esperar, fora das aulas as pessoas com quem lidei mais de perto foram estrangeiros.

Dos timorenses ficam algumas ideias, dois meses não deram para apreender mais. Um povo com um sorriso, mas nem sempre um sorriso sincero. São orientais, por isso estão habituados a esconder os sentimentos. São também um povo que sofreu muito, o que fomentou uma cultura de sobrevivência a qualquer custo, vale tudo. Há muita corrupção, descriminação e pobreza.

Esta é a pior imagem de Timor (perto do campo de refugiados, num lugar com um cheiro indiscritivel, que eu quase sinto ao ver a imagem).

Gostei muito de vir e quero voltar, gostava muito de, daqui a uns tempos, ver o resultado de Timor. Tem muitas coisas bonitas, mantêm muitas tradições que só vemos em documentários e tem também, acredito, muitos sorrisos verdadeiros. Mas acho que não gostava de ficar. Percebo o que atrai as pessoas. A paz, a tranquilidade, ausência de stress, a fuga de Portugal, a praia diária. Mas para mim não chega. Faltam coisas a acontecer em Timor, acho que é uma realidade que se esgota rápido. Também, ao contrário de muitos dos “viajantes” que tenho conhecido, as raízes existem em mim e são fundamentais, gosto de viajar a saber onde é a minha casa.

O título do post também podia ser “O início” já que me esperam três meses de viagem, sudeste asiático acima. Começando bem na ponta, sem roteiro definido (agradeço sugestões) e sem querer saber à partida onde acaba (qual é o filme que tem piada de outra maneira?!). Vou tentar ir contando aqui alguns capítulos.

Deixo Timor a ouvir a música que os montes verdes (que já foram mais verdes, porque a época das chuvas já lá vai) que desaguam no mar me puseram a cantar quando cheguei. A aquarela brasileira, Timor também merece uma música-desenho.

“Vejam essa maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu para este carnaval

Brasil, essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emoldura em aquarela o meu Brasiuuu”

Tuesday, May 6, 2008

Um cheirinho das diferenças

Porcos na praia, cabras no meio da rua, gatos entre os corn flackes nas prateleiras do super-mercado. Eu sei que parece surreal, mas juro que é verdade!



Ouvir “malai, malai” sempre que se sai de Díli, porque as crianças, como não costumam ver estrangeiros, ficam histéricas a gritar e acenar imenso.

Comer arroz que veio de uma bacia. Não haver faca nos talheres disponíveis, usam só garfo e colher, faca é coisa de malai.

Ver uma concentração de pessoas muito exaltadas com dólares na mão – pessoal a apostar nas lutas de galos. Claro que é um desporto interdito a mulheres

Campas nos jardins das casas. Também existem nas bermas das estradas a marcar os lugares onde houve atropelamentos/acidentes.

Pequenas mudanças: bananas vermelhas, beringelas verdes, koalas em vez do pico nos chocapics.


Cumprimentar toda a gente na rua. “Bom dia..Boa tarde”, um simples adeus quando vamos de carro. Em Díli acontece, fora de Díli é o normal.

As pessoas de mãos dadas, principalmente as mais novas. Primeiro pensei que eram só as meninas, mas não, é indiferente.


O clima, claro! Dos trópicos, como adoro :) As montanhas verdes a recortar o mar, mar de um azul turquesa incrível. Vejam bem a cor do de jaco, a ilhota na ponta este de Timor.


Mas nada supera isto:

“A rendição de Gastão Salsinha foi celebrada no comando conjunto em Díli, Timor-Leste, com uma festa que juntou os captores e os capturados da operação “Halibur” em torno de muita cerveja e muita música…"Houve muita cerveja, muita música e karaoke” afirmou um elemento das forças que, durante quase três meses, perseguiram os fugitivos do 11 de Fevereiro…Durante o jantar com oficiais do comando conjunto, militares e policias timorenses confraternizaram e abraçaram os 13 fugitivos...” (Jornal Nacional Semanário)