Tuesday, June 24, 2008

Malásia: Malaca e Portugal

Depois do choque de modernidade que foi a mégalomana Kuala Lumpur, com os seus arranha-céus e fixação com recordes do mundo, Malaca.
Apesar de uma primeira abordagem falhada os portugueses conseguiram dominar Malaca em 1511 (por incrível que pareça muita gente sabe esta data por cá). Ficamos pouco mais de cem anos no que na altura era o centro do comércio de especiarias, mas foi o suficiente para, vários séculos depois, existirem pessoas a falarem português, a cantar o vira minhoto e a festejarem o S. João e o S. Pedro. Notável, como diria o Avô António.


Sentados numa mesa multicultural, a fazer lembrar o ponto de encontro de civilizações que a cidade já foi, ouvimos uma versão um pouco diferente de "Uma casa portuguesa" . Um belga, um indiano-muçulmano, uma australiana, chineses e, claro, os malaio-portugueses. Todos cervejamos alegremente enquanto fazíamos e respondíamos a perguntas sobre as respectivas realidades e percursos.


Por pura coincidência chegamos no dia de S. João, celebrado como as festas de qualquer terreola portuguesa, com a piada, para nós, de vermos um esboço do povo português do outro lado do mundo. Os três senhores malaios da fotografia falavam um português antigo mas que se entendia perfeitamente e percebiam tudo o que nos dizíamos.

De resto, da presença portuguesa, sobram as ruínas de uma igreja e a porta da Famosa, fortaleza mandada construir pelo nosso conquistador do oriente, grande Afonso de Albuquerque . Incrível como uma cidade com tão pouco de português fez um museu marítimo, construído à imagem dos barcos portugueses que chegaram a Malaca. Também é impressionante que haja um "bairro português" construído com fundos ingleses, habitado por pessoas com tanto orgulho na sua ascendência lusitana, que mantém costumes que não tem nada a ver com este lado do mundo, e que não teve qualquer apoio do nosso país. Triste constatar que a nossa presença no oriente não tem qualquer seguimento.

Sunday, June 22, 2008

Yogyakarta

O caos. Carros, motas, bicicletas com e sem atrelados, ofertas de transportes e túnicas em cada metro...Tudo numa concentração absurda. Sempre alguns minutos de espera para atravessar a rua. As passadeiras são decorativas, o fumo já esta perto do insuportável, é assim uma metrópole indonésia.
À volta está o melhor. Templos hindus e budistas construídos há mais de um milhar de anos. O conjunto hindu chama-se Prambanan (sim, ainda falhámos umas vezes ate começarmos a dizer como deve ser).

Mesmo perto destes templos em memória dos deuses hindus Shiva, Brahma e Vishnu está outro templo budista, contemporâneo, a mostrar, mais uma vez, como convivem e sempre conviveram em harmonia as diferentes religiões, por aqui. Depois do pôr-do-sol hindu e da desilusão lusa, o nascer-do-sol budista. Igualmente imponente, com a vantagem de ter um enquadramento de floresta, vulcões e brumas que o cobriam com uma aura mística. Com a desvantagem de estarmos a cair de sono. Borobudur.










O nosso motorista adormecido na sua “casa”.



Hoje deixamos a Indonésia. Ficam saudades das praias e dos sítios da paz. Nenhumas saudades do caos das ruas e dos vendedores.

Ubud, Tulamben, etc

Quem ouve falar de Bali pensa que é uma ilha muito turística. E é-o de facto. Mas, ao contrário das praias de Kuta cheias de australianos do surf, com ofertas de massagens de dois em dois metros e com pinta de Albufeira nas noites de verão, há cidades que valem a pena.
Ubud é perto do centro, onde o típico é ver umas danças de inspiração hindu. Não é o meu género, um pouco monótonas, mas valem pelo diferentes que são. Uma espécie de teatro secular, com espíritos/Deuses bons e maus em conflito. Valem também a pena alguns templos hindus que se vem pelos caminhos da ilha.



Depois fomos a Tulamben, uma cidade que não teria qualquer interesse, não tivesse havido lá um naufrágio. Na II guerra mundial um submarino japonês abateu um cargueiro americano que, apesar de ter ficado muito perto da costa, depois de uma erupção do vulcão vizinho foi arrastado para o mar. Agora é uma atracção subaquática, com hotéis e escolas de mergulho a brotarem à volta dos destroços. Eu aproveitei.

As Gili






Umas pequenas ilhas perto de Lombok. Foram a primeira paragem depois do novo arranque e um dos sítios mais próximos do paraíso em que já estive.

Monday, June 9, 2008

Relaxar em Bali

Antes de arrancar para a verdadeira viagem, pareceram-me obrigatórios uns dias de calma e paz, que já há não sei quantos meses não tinha. Dias a não fazer nada. Praia, massagens balinesas, bons restaurantes, a companhia materna, dolce far niente :) até preguiça de escrever, por isso é que agora vai tudo de uma vez. Já restabelecido, começo a delinear o plano de viagem, vou lendo os relatos de quem já andou por cá e ouvindo quem vou encontrando. Logo chega a tolinha que vai atravessar o mundo para viajar comigo e lá vamos nós!

Sunday, June 8, 2008

O trekking em Lombok

"Caminhar por trilhos naturais, desfrutando do contato com a natureza e, ainda por cima, cercado de belas paisagens em locais pouco conhecidos." Esta foi uma definição que encontrei para trekking.

Começou com um dia inteiro a subir uma montanha mais alta do que a Serra da Estrela, numa monótona paisagem de selva, apenas animada por uns macacos ocasionais. Já tinha dito que não era para mim, muito esforço e pouco benefício, mas o melhor ía chegar. Depois de adormecer às 7 da tarde (primeira vez na vida?), por volta das 5h, ainda de noite, voltávamos a subir o monte.

Na chegada ao cume paisagens incríveis. Um vulcão que ainda há pouco esteve activo, rodeado por um lago, montanhas e cascatas.


Acho que a minha cara espelha bem o alívio/cansaço do momento.

Na berma do lago que abraça o vulcão estavam imensos pescadores que viviam em tendas improvisadas, feitas com plásticos. Como não têm meios para conservar os peixes, quando os apanham prendem-nos com uma corda e põe-nos outra vez na agua, quais cães com trela.

É uma última oportunidade. Há peixes no lago porque, há uns anos atrás, o Suharto mandou uns helicópteros despejar lá os avós dos peixes. Agora, quem não tem emprego vai la tentar a sua sorte.

O guia também tem que se lhe diga. 50 anos (a aparentar uns 35),pernas que parecem troncos (sobe a montanha 2/3 vezes por semana), trocou há pouco de mulher, a nova tem 20 anos ,e é um óptimo cozinheiro que todos os dias nos fazia, para o pequeno-almoço, panquecas de banana na fogueira. Contou-me que era meio muçulmano, meio porque gosta muito de Bintang (marca de cerveja) e arak (parecido com aguardente), além de só rezar uma vez por ano, no seu Ramadão especial.
Lombok é uma ilhota à frente de Bali, mas ao contrário dos balineses, cuja maioria são hindus, a generalidade dos seus habitantes são muçulmanos. Na Indonésia as religiões parecem conviver pacificamente, já acordei com muçulmanos a rezar de madrugada, vi igrejas em frente a mesquitas e alguns templos hindus. Espalhadas por Bali estao pequenas caixinhas com oferendas aos Deuses. Ontem assistimos ao nascer do sol num templo hindu onde estavam imensas pessoas tomarem o seu banho purificador para comemorar uma data sagrada.


O almoço, na berma do lago, foi este peixe com o típico arroz branco sensaborão, presente em quase todas as refeições destes sítios mais recônditos do oriente.



Saturday, June 7, 2008

As Flores



A primeira paragem pós-Timor, descontando a obrigatória em Bali, foi num arquipélago paradisíaco que já foi português. Montes de ilhotas verdes num mar transparente recheado de corais. Infelizmente a herança que deixamos limita-se ao catolicismo e aos nomes de algumas pessoas (e do próprio arquipélago, claro). Mesmo assim foi engraçado encontrar um António Lopes logo à chegada e ver que, mesmo nas aldeias mais remotas, apesar de mais animistas do que propriamente católicos, se encontram homenagens à Nossa Senhora, no maior país muçulmano do mundo.

Deu tempo para óptimos mergulhos e para visitar aldeias tradicionais, numa viagem de carro bastante penosa, aliviada por um guia que só sabia umas três palavras em inglês, mas com quem nos fartamos de rir. Graças a ele aprendi algumas palavras básicas do bahasa indonésio.

Na viagem passamos casas típicas, arrozais, plantas do café e do cacau e estivemos de molho numas hot springs (jacuzzi natural de água quente). O objectivo principal era visitar umas pequenas aldeias.


Todas têm no centro construções em forma de guarda-sol, para simbolizar o homem (protector da família, que se pode abrigar debaixo dele) e outras, em forma de casa, representam as mulheres. O chefe da aldeia tem uma espécie de casota em cima do telhado da sua casa, para mostrar quem manda. Algumas aldeias têm uma rede onde os miúdos jogam uma espécie de fute-volei, ainda deu para dar uns toques. Não há cemitérios comuns, as pessoas de cada família são enterradas em frente à sua casa, o que faz com que a convivência com as campas não tenha qualquer solenidade (assustei-me quando a bola foi para cima de uma, mas os miúdos continuaram a jogar como se nada fosse).



Começou nas flores, mas vai-se repetindo por toda a Indonésia: “Where are you from?”, “Portugal”, “OH, Cristiano Ronaldo!!”. Sem dúvida o maior embaixador do país, substituindo o Figo. Pena que quase ninguém saiba sequer onde fica o pequeno país que cá chegou há tanto tempo. Fomos os primeiros europeus a chegar à Ásia por mar e controlamos pontos-chave do comércio com o Oriente, é bastante triste ver-nos reduzidos ao futebol. Devíamos ter deixado mais obra feita por cá e aproveitar melhor o nosso passado no presente.

Daqui a pouco vou ver a nossa estreia no europeu, às 2h45 de cá, eles são tão doidos por futebol que há cafés que ficam abertos a noite inteira para verem os jogos. Vamos lá Portugal! :)

Ainda Timor

As imagens das despedidas de Timor.