Tuesday, April 29, 2008
Sunday, April 27, 2008
Wednesday, April 23, 2008
Friday, April 18, 2008
O Crocodilo Que Se Fez Timor
Um pântano é o pior sítio para se morar... e, ainda por cima, sem alimentos em abundância, daqueles tão a gosto de um crocodilo!
Naturalmente que tudo tem um limite. Incluindo a resistência à fome. E o crocodilo começou a sentir a fraqueza que lhe quebrava o ânimo e o definhava. Os seus olhos iam-se amortecendo e já quase não podia levantar a cabeça e abrir a boca.
- Tenho de sair deste lugar e procurar caça mais além... - pensou.
Esforçou-se e penosamente galgou a margem, caminhando através do lodo e, depois, da areia. O sol estava a pino, aquecendo a areia e transformando o chão em brasa. O crocodilo começou a perder o resto das suas forças e sentiu que se parasse ali, iria morrer assado.
Foi nessa altura que passou um rapazinho a cantarolar e quando o viu, perguntou:
- Que tens Crocodilo?! Tens as pernas partidas ou caiu-te alguma coisa em cima?
- Não, não parti nada! - respondeu - Estou inteiro, mas, apesar de ser pequeno de corpo, há muito que não aguento com o meu próprio peso. Imagina que já nem tenho forças para sair deste braseiro.
- Se é só por isso, posso ajudar-te! - respondeu o rapazinho e logo de seguida, deu uns passos, carregou o crocodilo e foi pô-lo à beira do pântano.
Quando o rapaz o poisou no chão molhado, o crocodilo sorriu, dançou com os olhos, sacudiu a cauda e disse-lhe:
- Obrigado. És o primeiro amigo que encontro. Olha, não posso dar-te nada! Pouco mais conheco que este charco, aqui tão à nossa vista... mas se um dia quiseres passear por aí fora, atravessar o mar, vem ter comigo!
- Gostava mesmo, porque o meu grande sonho é ver que mais há por esse mar fora.
- Sonho?!!... falaste em sonho?!! Sabes, eu também tenho esse sonho! Se um dia quiseres viajar mar fora, vem ter comigo. – disse-lhe o crocodilo.
Passados uns tempos, o rapazinho apareceu ao crocodilo. Já quase o não reconhecia. Via-o já sem sinais das queimaduras, mais gordo, bem comido...
- Ouve, Crocodilo, o meu sonho não acabou e eu não o aguento mais cá dentro! Gostava de me meter ao mar...
- O prometido é prometido... Aquele meu sonho... mas com a caça que tenho arranjado, quase me esqueci dele. Fizeste bem em vir lembrar-mo, rapazinho. Queres ir, agora mesmo, por esse mar fora?
- Isso, isso, crocodilo...
- Pois, eu agora também quero ir. Vamos lá então!
O rapazinho acomodou-se no dorso do crocodilo, como se fosse numa canoa, e partiram para o alto mar.
Era tudo tão grande e tão lindo!
O que mais surpreendia os dois era o próprio espaço, o tamanho que se estendia à sua frente e para cima, uma coisa sem fim.
E navegaram dia e noite, noite e dia, nunca paravam. Viram ilhas de todos os tamanhos, de onde as árvores e as montanhas lhes acenavam. E as nuvens também. Não sabiam se era mais bonito os dias se as noites, se as ilhas, se as estrelas.
Navegaram, navegaram sempre voltados para o sol, até que um dia o crocodilo se cansou.
- Ouve-me rapazinho, já não posso mais! O meu sonho acaba mesmo aqui... - disse, com voz débil, o crocodilo.
- O meu não vai acabar, nunca! - respondeu, o rapaz, com voz firme.
Ainda este não tinha terminado de dizer a última palavra e o crocodilo começou a transformar-se. Aumentou, aumentou de tamanho, sem nunca perder a sua forma primitiva, transformando-se numa ilha carregada de montes, de florestas e de rios.
É por isso que Timor tem a forma do crocodilo.
de Fernando Sylvan, na Cantolenda Maubere
Num mapa, a forma da ilha é mais ao menos (como respondem os meus alunos sempre que pergunto se perceberam) um crocodilo, mas estas são as montanhas onde está o Cristo-Rei...O Cristo é aquela pequena coisa no nariz do crocodilo (carreguem que a fotografia aumenta).
A pequena ilha que se vê à frente do crocodilo é Ataúro, para onde vamos amanhã! É a mesma ilha da segunda fotografia, tirada de uma das praias perto de Dili (sempre com névoa a dar-lhe aura de mistério).
Wednesday, April 16, 2008
A música
Foi uma pergunta que já algumas pessoas fizeram, qual é a música em Timor? Acho que o género mais adequado para o cenário e estilo de vida é o reggae. Paz, calma, relaxe, ritmo lento…Quase não se ouve música feita cá, ouve-se alguma indonésia nos táxis e nos bares ouve-se a que passou na Europa há uns anos ou, pelo menos, há uns meses. Também se ouve no bar das quintas-feiras um grupo reggae. Parece haver muitos timorenses fãs da onda rastas-reggae-jamaica.
Hoje descobri que Timor pode ter outro som. Pus o meu ipod (sim, estou a usar a prenda :)) com electro bom para correr e de repente parecia que estava em Madrid a curtir Tiga ou no Sudoeste em Groove Armada. O objectivo era correr a marginal, de Dili à praia da areia branca, acho que são uns 6kms. Claro que na minha forma tive que passar para passo algumas vezes, mas cumpri a missão e cheguei a tempo do mergulho + água de côco ao pôr-do-sol.
Já pude ir uma grande parte na estrada que se está a fazer. Qual a razão para fazer uma estrada nova? Os buracões que tinha a outra? Seria porque há partes onde a montanha resvalou e há grandes pedras no meio da estrada? (como em muitas). Não, muito mais importante. Volta amanhã o presidente e os timorenses querem fazer uma gracinha (não vão haver algumas aulas para eles se poderem alinhar na rua a saudar o Ramos Horta! (em que ano estamos?!)) Acontece que só se devem ter lembrado disso há pouco tempo, então meia dúzia de dias, a trabalharem, literalmente, dia e noite, tiveram que chegar para alcatroar a estrada que leva a casa dele (ou que nos leva à praia). Acho que se vai desiludir um pouco porque foi feito tão a pontapé que há partes em que ainda só alcatroaram um sentido. Devem querer aproveitar amanhã enquanto ele estiver a almoçar para arranjar o resto.
Tuesday, April 15, 2008
Liquiçá - O regresso
Tinha-me esquecido de mostrar uma coisa gira da viagem do outro fim-de-semana. A ida foi de bicicleta, mas a volta foi de microlete (pão de forma). Nunca pensamos que conseguíamos caber os cinco + bicicletas + alguns timorenses na microlete, mas os gajos são os campeões do desenrasca. Amarraram umas bicicletas lá em cima, puseram outra lá dentro, pendurou-se um gajo do lado de fora e pronto, lá viemos.
Sunday, April 13, 2008
O meio de transporte
Ainda que pareça difícil de acreditar, o meu tem sido a bicicleta. Já não andava desde os tempos em que fazíamos kms em Vermoim e tentávamos bater as velocidades máximas. Aqui é útil porque é uma maneira de ficarmos independentes, ao mesmo tempo que dá para apreciar o caminho. Claro que há dias, como hoje, em que o rabo já não merece mais assento duro, além da minha bike indonésia se estar a desfazer, aí temos os táxis e microletes.
Na fotografia está o resultado de uma pequena viagem em que apanhei uma granda chuvada. Ainda está a acabar a época das chuvas, portanto, o normal é os dias amanhecerem azuis, mas chover muito ao fim da tarde. Depois as nuvens vão-se e fica o céu estrelado (potenciado por quase não haver iluminação nocturna).
Na segunda fotografia estão os carros mais comuns de Dili.
Thursday, April 10, 2008
Viagem a Liquiçá - a tribo
No último fim-de-semana fizemos 35km de bicicleta para ir a uma cidade próxima, Liquiçá. Acabamos por quase não conhecer a cidade, porque quando chegamos começou um temporal, mas também não tinha muito que ver. O importante era mesmo a viagem.
No caminho, começamos a ouvir uns batuques a saírem do que parecia ser uma das muitas aldeias isolada na selva que se encontravam no caminho. Seguimos a batucada, mato adentro, e fomos ter a uma festa. Segundo me explicou o único senhor que arranhava português, estavam a celebrar o fim das colheitas e iam matar um leitão e dois cordeiros. A cerimónia é a que está na fotografia, só há homens porque as mulheres e as crianças têm que ficar do outro lado. O personagem de chapéu devia ser o líder da tribo porque começou a entoar cânticos e rezas (pelo menos pareciam ser) a que os outros respondiam. Entretanto as mulheres começaram a tocar em gongos (que eu confundi com frigideiras) e batuques ( o som não era muito diferente de quando éramos pequenos e batíamos nas panelas e nos tachos). No fim ficaram todos muito excitados, a berrar muito e levaram os animais para a sua morada final :p …Não ficamos para ver a matança.
Valeu pela sensação de autenticidade da festa (a contrastar com os índios pataxé ou pataxó que alguns de nós viram no Brasil, esses só faltava venderem brindes). Surpreendentemente as pessoas não ficavam nada intimidadas com a nossa presença, pareciam orgulhosas. Até tentaram que não fossemos embora antes de matarem os bichos, porque para eles é o auge. Filmei o ritual e alguma “ música”, fica para os dias em que a velocidade da net for aceitável.
A segunda imagem são os miúdos da aldeia (reparem nas casas que estão no fundo, são a aldeia!)
Wednesday, April 9, 2008
O primeiro contacto
Timor é uma terra por explorar, um país que ainda se está a fazer. As paisagens são incríveis, de um género que só tinha visto no Rio, montes verdes a desaguar no mar são o que mais há.
Aqui tudo é National Geographic. Saindo da cidade parece que estamos numa ilha onde o Homem não chegou. Depois, quando encontramos Homens, eles estão num estado de civilização diferente. As crianças acham-nos uma novidade e gritam “Malai, malai!” (palavra tétum para estrangeiro, menos chineses, esses são chinas).
O Cristo-Rei que abençoa Dili (ou que está virado para o mar para nem ouvir os boatos, conforme as versões).
A vista de quem, do monte do Cristo, olha para a esquerda (praia dos portugueses, dos australianos ou da bunda do Cristo, depende dos povos, advinhem qual será o 3º :)).
A vista de quem, exactamente do mesmo sitio, olha para o lado direito (praia do Cristo). Adorava conseguir apanhar os dois lados na mesma imagem, mas não deu mesmo.
Curiosidade para o trivial: o Cristo foi oferecido pela indonésia e tem 27 metros, tantos quantas as províncias indonésias, a 27ª era Timor (lonely planet).